Em 23 de junho último, completei 10 anos do primeiro emprego efetivo em publicidade.
Marco como o 2º início da carreira que sigo até então [o primeiro foi simplesmente ter entrado na faculdade].
| um vídeo editado ali na agência, que foi parar na mão da montadora, por que a veiculadora (da Globo) local achava termos um material bom demais para ser coisa de agência de Curitiba, com 6 funcionários.
Sou da geração que viu nascer orkut e youtube.
E que chegou no final da graduação achando ser uma baita sacada tecnológica anunciar no MSN Messenger.
Ainda era também da geração que entenderia o que os próximos iPhones poderiam entregar, já que o primeiro era um palm turbinado da maçã com mais fã(natico)s.
A última geração que entulhou salas do curso de PP pensando mais no glamour que no preço dele, pensando em Cannes, achar bonito virar noites, não pensar no assédio moral e sexual [o suposto preço para acessar o mercado], e achar ok ser semiescravizado pela ponta mais “alice no país das maravilhas” do capitalismo.
Um gargalo que no curso começou com 80 alunos em 2 horários, e terminou com 21, única turma.
E destes, apenas 3 ainda estão neste mercado.
As 10 melhores coisas da minha primeira década profissional
1] Ter ficado 8 anos e meio na mesma empresa.
Não só por competência, mas por não fugir da necessidade de estabilidade que muitos brasileiros prescindem para uma vida minimamente digna.
A MMC Publicidade formou tudo de bom e de ruim que constitui minha carreira.
2] Afinal, me permitiu que mantivesse a mesma ideia que construi e fomentei na faculdade:
Mesmo especialista em direção de arte, queria dominar todos os outros campos básicos de uma agência, especialmente planejamento e gestão.
3] Isso me fez [man]ter um pé no empreendedorismo.
Ainda que empregado [durante um periodo, fazendo DA + redação, e durante outro, + atendimento e planejamento].
Não parei de querer mais, estudar mais, e subi os degraus da empresa onde estava até o topo, e de lá eu vi que não era o que eu queria, muito menos precisava.
E frilava para fazer as contas fecharem e um casamento acontecer [ou seja: se mesmo no topo eu precisava buscar fora, que topo é esse?].
4] Nos freelas me sentia mais confortável para alcançar mais um sim do que para pessoas que não sabem – e não gostam – de ouvir não.
E adotei o modelo 100% remoto para [man]ter além de um propósito sólido, um dia a dia que me deixasse mais satisfeito que destruído mentalmente.
5] Graças a tecnologia, que no decorrer do período deu saltos incríveis, fico “independente”.
O século 21 e tudo de bom que aconteceu na tecnologia torna possivel atender qualquer cliente em qualquer lugar, bastando a competência e proatividade.
Sigo bastante proativo…
6] E por isso, nunca perdi o interesse em aprender.
Do programa de edição de vídeos mais tosquinho à programação que [hoje] acho mais complexa, sempre tirei meus 50-50000 minutos para ler, sentar, fuçar, até sair uma solução. Até formatar uma ideia.
7] Nunca ter me dobrado à vaidade.
Estar numa agência maior, ganhar prêmios, ser [re]conhecido por status, e ter dinheiro na frente de qualidade de vida… nada disso faz a minha cabeça.
Tenho essa mania de não ser vaidoso, e raramente colocar o ego diante dos meus trabalhos.
Tudo que eu podia ser arrogante e escrotinho, fui na faculdade.
Entrei já sabendo o que queria, e saí certo de que tava num bom caminho.
8] Foi muito bom ver egos maiores que o meu.
Trabalhando com egos maiores que o meu, vendo palestras de gente mais escrota que eu, e lidando com clientes que eram pessoas muito piores que eu, aprendi que alguns valores eram simplesmente desnecessários na vida.
Somado a sempre ver gente mais competente brilhando por aí, entendi que nem pouco, nem muito: o que tinha e fazia ao meu redor era o melhor.
Reclamar ou evoluir sempre eram – e seguem – uma escolha.
9] Escolha que mantive: pensar pequeno, agir gigante.
Trabalhar para grandes empresas [não falo apenas de posição econômica…], não necessariamente dentro delas.
Lidar, aprender, me irritar, até saber lidar de verdade, com todas as pessoas, processos e suas complicações.
Colocar pequenas empresas no radar do sucesso.
Ter uma carreira feita de propósito, ao invés de ter de propósito uma carreira aparentemente de sucesso enquanto todas as noites se está à mais um whisky ou vício similar de um suicídio [in]direto.
10] Os meus trabalhos.
Nem todos são bons, mas, gente, como eu gosto de fazê-los! 95% dos dias são de “pqp como eu gosto do que eu faço, p-q-p”.
Nos 5% onde a linha ou a paz desaparecem, só precisa o dia acabar, ou o tempo passar, para manter o prazer pelo que escolhi como profissão, há 17 anos e pratico profissionalmente por uma década.
Espero para as próximas décadas seguir amando o que faço, aprendendo a acompanhar as evoluções das pessoas, que por sua vez serão as evoluções da sociedade, das empresas e do mercado.
Quando comecei, acreditava que quanto melhor o orçamento, mais eficiente seria a ideia.
Entendi ao longo do caminho tanto que isso era só um pedaço da história, quanto que somos todos movidos por boas ideias.
Muitas vezes, a melhor ideia é apenas deixar as pessoas confortáveis com aquilo que são acostumadas, mesmo que digam que querem algo novo.
Ford e sua frase controversa ainda seguem com um pouco de razão.
O que não significa que não devemos fazer com que cada pedaço de comunicação flutue na liquidez da vida e de cada ponto onde nos relacionamos, com pessoas-pessoas, marcas-pessoas e pessoas-marcas.
Sem transpassar o limite do respeito ao espaço, físico e psicológico do que se chama de público-alvo, ou persona, para usar o termo da vez.
Aceitando que desde que o primeiro classificado foi escrito de forma criativa, tem alguém que vai problematizar o que ali fora comunicado.
Hoje está mais fácil identificar o que incomoda, quem se incomoda e é opção de todos que se envolvem transformar este processo de comunicação em problema ou inovação.
Gosto do momento de transformação do mercado de comunicação, cujo sacolejo começa com um impacto financeiro, mas pode acabar numa transformação social.
Falo do tema pois, mesmo com os fortes movimentos de percepção humana – gênero, raça e os decorrentes preconceitos em torno disto – ainda são pessoas falando de pessoas, com pessoas, e com prioridades deveras egoístas a solucionar, people to people.
O deslocado social que se encavernou na agência, vai se encavernar em outro lugar.
O tarado travestido em qualquer C-level seguirá sendo tarado, com outro subtitulo no Linkedin.
A geração que “não aceita muito do que tá aí” também tem bastante fulaninxs que têm certeza de que o único modelo viável de negócio é o máximo lucro com a mínima despesa.
De que é bom resolver a causa da sua exclusão social, desde que ele não precise pensar de onde vem tudo que consome, quanto vale, e quanto realmente custa.
Como o futuro que se desenha é de bastante automação e terceirização para os “atuais e próximos” submundos econômicos [uma vez que a ideia do máximo lucro com a minima despesa não só não morreu como é a força motriz principal do marketing e suas peças], cada vez mais teremos a vocação intelectual [ = o que pode ser chamado de profissões artísticas / criativas] como norte profissional.
Mas, até e durante lá, seguimos com várias páginas em branco para serem preenchidas como bem pudermos escolher.
Eu escolhi, lá em 2002, despejar tudo que tinha na cabeça e no coração, transformando em soluções de negócios para mim, para os clientes que o mercado me permitisse escolher e ser escolhido, sem achar que cairiam no colo.
Com a certeza de que o não eu já tenho.
Então só resta seguir batalhando todos os dias por mais um sim, como comecei a fazer profissionalmente há 10 anos.
Imagens do post: as 4 primeiras são criações minhas. [5] http://theartofanimation.tumblr.com/post/175334887303/recneps-sais | [6] https://deposito-de-tirinhas.tumblr.com/post/174314697777/por-andr%C3%A9-dahmer | [7] http://lizclimo.tumblr.com/post/166756230424/horror-stories-for-dogs | [8] https://deposito-de-tirinhas.tumblr.com/post/173030433117/deposito-de-tirinhas-por-laerte