As piores frases corporativas só perdem para ser um profissional ruim.
E o universo corporativo / as relações profissionais são repletas de frases feitas que se popularizam rapidamente.
Algumas, além de não fazerem sentido, são nefastas para o entendimento real do que é estar num emprego, viver um trabalho, e construir uma carreira respeitando primeiro a si mesmo, depois o ambiente ao seu redor.
A seguir, as que acredito que são mais danosas.
As piores frases corporativas
“se você é a melhor pessoa da sala, tá na sala errada”.
Entre as frasses mais arrogantes da história, “se você é a melhor pessoa da sala, tá na sala errada” é top 3.
Vejamos: então se entro num ambiente pressupondo ser mais f0d@ que os demais e algo sugerir que sim, me retiro / troco de turma?
Coloquei “melhor” mas pense em “mais inteligente” [como se inteligência fosse apenas conceitual], “mais rico” [como se riqueza fosse apenas o dinheiro]…
A lógica nefasta do “você não é desafiado por pessoas medíocres” é tentadora, especialmente no contexto de networking e negócios que vivemos.
Só que transforma a naturalidade da relação humana em obsessão por prateleiras.
“Preciso ser melhor que X”. “Devo ser tão bom qto Y”, “o certo é me relacionar com Z”.
Consagrado ou consagrada, cê só precisa ser melhor que você mesmo!
E um dos meios de não conseguir isso é sendo tosquinho a ponto de achar que toda média ao seu redor tá primeiro pra baixo [é média!], e que só dá pra aprender com quem já sente o cheiro da fornada na fila do pão.
Em vários cenários, essas “pessoas melhores” não são o público seja lá do que você quiser vender ou aprender.
Já você é, certamente, cliente delas.
Não é coincidência essa frase estar em 20 dos 10 tipos de negócios que vendem desenvolvimento pessoal prometendo elevar seu nível…
“você é a média das 5 pessoas com quem convive”.
Abra a mão que não segura o celular, conte nela: cada dedo, 1 pessoa que tu vai passar a menosprezar.
Isso acontece quando você leva a sério a cultura de “ser a média das 5 pessoas com quem convive”.
Tem várias verdades aí.
Uma é que vão vender mentorias com ela.
Contudo, sem lembrar que ao buscar no outro a falta em ti, tanto faz quais sejam as 5 pessoas, a média será insuficiente.
Alimentará 1 ciclo vicioso em comprar o que você precisa descobrir dentro de si, noutra natureza de preço e valor.
Somos influenciados por tudo e todos que nos cercam. Somos média disso tudo, sem precisar escolher “5 extraordinários”.
A [auto-]responsabilidade do que fazer com cada “clube dos 5” é sua.
Quem vende isso [em qualquer produto ou serviço] costuma ser arrogante.
Assumindo posição de autoridade, num pedestal, e tudo que faz precisa ser validado.
Só publica as coisas como panfletagem.
Conversa apenas com quem rotulou como “média alta”.
Se faz humilde em forma de pergunta, quando tá pesquisando [e vendendo] em cima das tuas dores.
Seja e orgulhe-se de cada média que você vive. E tenha a atenção de tirar o melhor delas.
“oi, tudo bom? Oi, tudo bem?”
Já reclamou algum dia de atendimento de #telemarketing ou #sac de empresa grande?
Então porque carambolas você começa e responde t-o-d-a–e–q-u-a-l-q-u-e-r–m-e-n-s-a-g-e-m com as mesmíssimas palavras?
Não tou falando da saudação em si, é de mandar 15 e-mails pra alguém no mesmo dia, e perguntar “tudo bem” em todos eles.
Ou falar com a pessoa em diversos canais – e em todos, T-O-D-O-S – você repetir a saudação.
Isso não é empatia, nem simpatia. É ato reflexo. É robotismo. E é um porre… É uma etiqueta corporativa que poderia cair em desuso.
Fica a impressão que a pessoa não tá prestando atenção em nada do que se conversa no canal em uso.
Soa egoísmo: quem repete está “focado” em resolver o assunto [responder a mensagem], mas não o problema [comunicar-se de uma forma clara e ganhar tempo para o que for preciso].
E ai, tudo bem? Tudo bem? Tudo beEAAAGGGGHHH!
Duvido que você goste de conversar com quem tem comportamento robótico.
“tem que ter visão de longo prazo”
Nem com o olho de tandera a frase “visão de longo prazo” faz sentido.
Depois de “precisamos cortar custos”, essa é a frase que mais me incomoda no universo corporativo.
Nem pelo textual, é o contexto em que é utilizada.
A associação com a ideia de que só planejando as coisas acontecem, acaba sustentando o abismo que existe entre planejar e fazer, ao invés de encurtá-lo.
Ao tratar como mito a necessidade de estruturar processos grandes [a sustentabilidade da empresa no mercado] em partes menores, que precisam ser pensadas do “fim pro começo”, a abstração dessa necessidade de visão de longo prazo vira uma fantasia.
Pois dependendo do tamanho da empresa, o abismo não é só da visão, é entre quem conduz cada etapa.
Um problema de cultura, a cultura geral, não a corporativa que posiciona gestores como deuses ante outros escalões da corporação.
A má percepção dos valores humanos que ainda sustenta violências morais e sexuais entre hierarquias.
Como diz um slogan publicitário, potência não é nada sem controle.
Visão de longo alcance só faz sentido se há um passo para dar no final do dia, para chegar em algum “lá”.
E sem o esforço para executar isso é puro suco de merda.
Exatamente como a manutenção da zona de conforto que deixa cargos e salários estáveis em tantos locais públicos e privados por aí.
“por que num mundo v.u.c.a…”
Quer ver ou ler alguém tentando impressionar?
Aguarde pelo vuca, ou vica, solto no meio de uma frase aparentemente inteligente.
Volátil, Incerto [uncertain], complexo, ambíguo.
Do que estudo conteúdos mais profissionais/corporativos, [e já tem um bom par de anos] já existia essa conversinha.
O termo existe desde o começo dos anos 90…
Particularmente não me lembro de algum momento onde a humanidade não estivesse lidando com estas 4 dinâmicas.
Aliás: todas essas coisas acontecem num intervalo de um dia.
Resolveram transformar em ativo de negócio, e toda vez que eu leio me sinto como se estivesse segurando um copo de água e me dissessem: água é bom, viu? Saudável e faz bem, se eu fosse você, eu beberia.
“tudo muda muito rápido e com as tecnologias e tendências é importante estar um passo a frente, ser flexível e resililente pois não há previsibilidade de nossas ações e blá-blá-blá”…
Tem algum momento aí na sua empresa, ou no seu cargo, que a vida não funcionasse exatamente assim?
Por mais que criemos zonas de conforto mentalmente, tudo sempre esteve, está e estará a um passo de mudar. Se você leu esse texto em 2020, sabe muito bem do que estou falando!
Enfeitar o jarro com esse termo é como colar um adesivo na testa: “insegurança do cacete em ser mais organizado e estratégico de verdade, e não no discursinho”.
As piores frases corporativas: “o empregado tem que pensar com mentalidade de dono”.
A implicância com essa frase tem uma lógica bem rasa: este ser humano já tem que ter mentalidade de dono com a própria vida, e costuma ser instruído a não ter consigo.
Pois sugere que a camisa da empresa tem que ficar mais apertada que a sua. Fica e é por isso que tem tanta gente quebrando psicologicamente.
Esqueça o mundo lindinho que tentam vender no Linkedin, onde tudo virou um grande “instagram do emprego” e, pelo preço do ego, tentam fanficar a jornada de trabalho ao ponto de virar uma competição de quem tem o emprego mais foda.
Empregado pensa como dono se for dono, se for empoderado como um.
Se entender a diferença entre trabalho e emprego.
Se tiver dentro de si a cultura de empreender, e for estimulado a utilizar esta cultura de verdade
Do contrário, é só discursinho, bulshitagem corporativa…
Pois sempre vão existir os fatores externos, os problemas estruturais e culturais das empresas, e da economia como um todo.
Fora as pessoas que descontam um sem-número de frustrações e maldades recebidas a partir de um crachá ou cargo supostamente superior.
“o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”.
Quem nunca, né? Eita frasezinha maldita, se aplicada ao universo corporativo.
Se o principal motivo para trabalhar é o sucesso, o que realmente seria ele?
Especialmente quando mudam o significado de emprego para trabalho, assuntos completamente diferentes.
Do jeito que sucesso é vendido, apenas é a corrida maluca onde as pessoas ficam doentes em ambientes tóxicos e deslocamentos épicos dum lado pro outro da cidade [entre cidades, dependendo da região], diariamente, tudo pela aprovação social da posse.
A validação social da posição ou de ser + que @ vizinh@, @ prim@ que [insira o cargo de comparação], o amiguinh@ de estudo te implantou trauma… e só.
A gente precisa – e pode – trabalhar por vários motivos. Sucesso é uma medida que, feita na régua dos outros, costuma não caber como gostamos de mensurar.
Pode reparar: quando as pessoas tidas como sucedidas de fato fala[va]m sobre o assunto, em raras oportunidades o emprego está elencado como fator.
Ou seja: e se você obter sucesso pessoal primeiro, e depois trabalhar nele, a partir de um formato profissional?
As piores frases corporativas só perdem para você ser um profissional ruim.
Pensa nisso tudo e lembre-se: o que o dicionário explica nem sempre a vida valida 😉
E você, quais frases corporativas odeia? Conta aí nos comentários!