Era 2004 quando, pela primeira vez, mexer no computador retornou em dinheiro para o meu bolso. Ainda não era uma carreira.
Pois era isso mesmo, mexer no computador. Virou digitalizar desenhos, e vetorizar [transformar em objeto escalável digitalmente] ponto a ponto, curva a curva, cada uma das minhas abstrações.
Dos pitacos nos trabalhos que meus irmãos faziam, até entregar as primeiras marcas, foi um pulo.
Estes 20 anos, quase.
De lá pra cá, tivemos uma vida.
Nascer
2002-2004. Um ensino médio que era o melhor que eu tinha à disposição e todas as ferramentas em casa para buscar o melhor resultado possível na federal.
Do ENEM, que vários professores desestimulavam a fazer, a internet, virando a chavinha de discada para banda-larga.
Calhou de ser o vestibular mais concorrido da história para publicidade e propaganda, e eu ter ficado de fora por 3 questões.
Mas também calhou de ser o primeiro PROUNI da história e, com ele, eu consegui uma bolsa integral, tendo o primeiro lugar em todas as universidades públicas de Curitiba, com a nota do ENEM.
Os quatro anos seguintes foram de um só compromisso: sair de lá o melhor profissional possível, pronto para amadurecer.
Amadurecer
2005-2008. Uma faculdade que começou com quase 100 alunos em 4 turmas de comunicação e terminou com pouco quase 40, somando quem sobrou (e não sobrou turno da manhã). Aos anos:
Ano um de [re]conhecimento, pois eu não fazia ideia do que era privilégio até ter colegas de sala que só estavam lá porque os pais pagavam e com isso, aquilo era só um preenchimento do tempo, e não (até ali) o passo mais importante de suas vidas.
Dois, ano de arrogância: eu não tava lá à passeio, e não deixaria ninguém estragar a base da minha carreira.
Ano três, dobrar a aposta e só trabalhar com quem tinha a mesma fome que eu. Um estágio e a certeza de estar no caminho certo.
Ano 4 e, sozinho, fazer um TCC com [na época] puxar como consequência uma das maiores notas do curso. Fazendo sozinho o trabalho de 5, 6, 8 pessoas.
No meio de 2008, entrar no ambiente que me faria atravessar a puberdade e envelhecer.
Puberdade e envelhecer.
2008-2017.
De estagiário a sócio de uma só agência de publicidade.
A maior (e melhor) especialista em varejo automotivo de Curitiba cabia em uma sala comercial de 36m².
E os 8 anos e meio ali foram incríveis, do copo meio cheio a construir toda uma cultura profissional, com prós e contras, ao meio vazio de desistir de ser “algum porcento de dono” do negócio dos outros para ter o meu.
Não que não fosse minha vontade, eu apenas quebrei emocionalmente por precisar fazer sozinho o trabalho de 3, 4 pessoas. Mesmo com a experiência 8 anos antes, faltava a energia da época.
E a vida ao meu redor pedia mais.
Teve casamento, morte dos pais, pessoas próximas atrapalhando, e os demais pormenores da vida acontecendo. A vida me pedia para continuar amadurecendo e, com isso, florescer.
Florescer
2017-2024. Meu CNPJ, minhas responsabilidades, minhas escolhas. 7 meses depois, 30% a mais do que ganhava como sócio.
7 anos depois, 5 vezes o que recebia como sócio.
No meio do caminho, tirar do caminho mais 4 problemas familiares gigantes. Abrir uma extensão do meu negócio, e uma materialização da minha própria carreira, e ensinar do meu jeito e nos meus termos, tudo que desenvolvi e aprendi nessa jornada.
Ter contratos de longa duração, a agenda fechada por alguns meses, o reconhecimento menos público e mais orgânico, e colher em tudo que plantei, somente coisas boas.
Fiz (não muito mais do que) a minha obrigação. Fiz o que pouca gente tem coragem: vivi apenas a minha própria vida e carreira.
Chegar a 20 anos dela com estes resultados, é um baita dum privilégio.
Primeiro, porque faço desde sempre o que escolhi fazer, mesmo vivendo janelas de tempo em que não poderia escolher o onde nem o como fazer. Onde os sacrifícios tinham nome e sobrenome.
Porque ouvi todas as vezes a minha intuição e, pensando, escrevendo, planejando e cumprindo, segui vivendo escolhas completamente certeiras.
Deixando de lado todo o barulho, todo o (suposto) caos e negativismo do mundo lá fora. Focado no que posso e sou responsável por resolver.
Segundo, por lapidar um ambiente de trabalho, presente e futuro, maduro, florido e leve, porque não faço o que faço tendo como causa uma imagem profissional perfeita, um sem-número de validações externas (e vazias).
Mas por (e para) conseguir ser próspero, fazer com que o dinheiro me permita acessar produtos, serviços e experiencias singulares, para mim e para as pessoas que amo, sem que isso custe mais do que o necessário do meu tempo, saúde e alma. Dentro de uma vida inteiramente privada.
Tendo a felicidade do dia a dia, todos os dias, como causa. E tudo que vem de material, real e abstrato, como consequência.
Afinal, ganhar dinheiro é muito bom. Mas ser capaz de viver 2 décadas de uma carreira, e olhar para ela com uma alegria completa, sem asteriscos, sem “…, mas…”, e com a certeza de que dá pra viver mais alguns anos de tudo que ela tiver, é incrível, de verdade.
O menino que em 2004 só rabiscava no coreldraw 4 está muito feliz do quase-quarentão que escreve estas palavras para lembrar e não esquecer do quanto esta carreira é boa, e será, permanecerá melhor, tão mais eu permaneça atento ao exercício de fazer boas escolhas. Até morrer 🤎